Publicado em 02/10/2012
Um
professor brasileiro do fundamental 2 (6º a 9º anos) ganhou, em média, US$ 16,3
mil por ano em 2009. Enquanto isso, na média, um profissional com formação e
tempo de experiência equivalentes recebeu US$ 41,7 mil nos países da OCDE
(Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).Se
for levada em consideração a situação do professor da rede pública, a comparação
fica ainda pior. A média anual é U$ 15,4 mil. Os salários dos docentes
brasileiros foram calculados, com base nos dados da Pnad (Pesquisa Nacional
Amostra de Domicílios) 2010 pela Metas - Avaliação e Proposição de Políticas
Sociais a pedido do UOL.
Já os dados da OCDE foram divulgados no começo de setembro no relatório anual
Education at a Glance ("Olhar sobre a Educação" em tradução livre).
“Salário
é o principal [fator de atração para carreira docente]”, afirma o pesquisador
Rubens Barbosa de Camargo, da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São
Paulo). E os estudos - além da experiência prática - confirmam e reafirmam a
importância do professor na qualidade da educação.
“Há
muitos licenciados [profissionais com licenciatura que podem dar aulas] que
deixam a profissão. Melhorando o salário, não só atrai a juventude como pode trazer de
volta esses professores”, diz Camargo.
Para
a economista Fabiana de Felício, da consultoria Metas - Avaliação e Proposição
de Políticas Sociais, a questão que se coloca é: como selecionar bons
professores se a profissão não é valorizada. “É uma atividade desgastante e [dar
aula é] um compromisso inadiável. Tem de pagar um salário compatível [para que
valha a pena ser professor]” , diz Fabiana.
Diferença com outros profissionais
Pelos
cálculos da consultoria Metas, o salário médio de um professor da rede pública
com curso superior e com, pelo menos, 15 anos de experiência (US$ 15,4 mil) não
chega a metade (48,5%) da remuneração dos demais profissionais (US$ 31,7 mil) no
Brasil.
No
caso dos profissionais do fundamental de modo geral a diferença é um pouco
menor. O salário anual médio de um professor da rede pública (US$ 13,1 mil) é
54,7% do médio das demais profissões (US$ 24,4 mil) com a mesma formação e o
mesmo tempo de serviço.
Os
números são ruins, mas já foram ainda piores. "Com a introdução do Fundef [Fundo
de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério] que depois virou o Fundeb [Fundo
de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação], o professor deixou de ter salários acintosos", diz
Camargo.
Essa
desproporção é comum mesmo nos países ricos da OCDE. Na média, os países da OCDE
pagam a seus professores 85% do valor com que remuneram os demais profissionais
da etapa equivalente ao fundamental 2.
Na
Finlândia, país tido como exemplo pela qualidade da educação, um professor
secundário com 15 anos de experiência tem salário praticamente equivalente ao
restante da força de trabalho (98%). Dos 30 países com dados disponíveis, apenas
quatro têm proporções na casa dos 50%. São eles: Islândia (50%), República
Tcheca (53%), Estônia (57%) e Hungria (58%).
Em
comparação com os países da OCDE, o Brasil
está entre aqueles com menor investimento anual por aluno do grupo, sendo o terceiro que menos investe
por aluno no pré-primário (US$ 1,696) e no secundário (US$ 2,235) e o quarto
colocado no primário (US$ 2,405).
PNE
Uma
das 20 metas do documento original do PNE (Plano Nacional de Educação),
elaborado no final de 2010, diz respeito à remuneração dos professores. Segundo
o documento a 17ª
meta das 20 propostas é “valorizar o magistério público da educação básica a fim de aproximar
o rendimento médio do profissional do magistério com mais de onze anos de
escolaridade do rendimento médio dos demais profissionais com escolaridade equivalente”.
O
PNE, que deveria estar em vigor no período de 2011 a 2020, ainda se encontra na
Câmara dos Deputados. A disputa que mais tem causado o atraso de sua aprovação é
o percentual de investimento em educação. Movimentos em defesa da educação
apontam para 10% do PIB (Produto Interno Bruto).
No
último capítulo dessa novela, a meta
de investimento em educação subiu de 7,5% para 8% do PIB e criou a possibilidade
de elevar esse percentual a 10%, caso metade dos recursos do pré-sal, a
serem investidos na área, representem 2% do total.
Segundo
um relatório elaborado pela Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo
(Adusp), o salário dos professores abocanham um valor equivalente a 1,5% do PIB
nos dias de hoje. “Com 2% do PIB seria possível alcançar a média dos outros
trabalhadores”, avalia Rubens Barbosa de Camargo. Segundo ele, a valorização do
magistério passa ainda por melhoria nas condições de trabalho, como
infraestrutura de qualidade e diminuição do número de alunos por
sala.
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Fonte: UOL |